segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Relatos de Viagem - CUBA e seu eterno tempo

Quando voltamos a Havana, 10 dias depois, parecia que já havíamos estado lá muitas vezes. Conhecíamos as ruas, falávamos delas com a familiaridade que carregávamos pela Vila Madalena. Tínhamos nossos lugares habituais, nossas mesas cativas  nos bares e restaurantes, ainda que estivéssemos sentados ali pela segunda vez.

Havia até nosso garçom de confiança, o Dennis. Ele atendia num bar improvisado, num sacada, que eles chamam balcón - soa mais romântico – e ficava dentro de uma casa na famigerada rua Obispo, apenas a duas quadras de onde nos hospedamos nessa segunda vez, na rua Bernaza.

Casa da senhora Velúvia.
Um apartamento muito grande para uma senhora. Pareceu muito sozinha. Sempre disposta a conversar conosco, fazer perguntas, nos contar histórias. Mas parecia nunca sair de casa.

Um dia me disse que uma empresa venezuelana chamada Telesar teria saído do Brasil a mando do Maduro por conta do impeachment da Dilma. Contou também que haviam muitos protestos no México por conta do  subsídio do petróleo.
E se irritou muito com umas hospedes coreanas novinhas e barulhentas que haviam passado uma noite ali. Confesso que também me irritei.

Um dia amanheceu frio e Havana. O inverno finalmente resolvera impor sua presença no Caribe. Olhando da sacada da senhora Velúvia, em direção à rua onde ficava a praça que fazia cerco ao famoso Floridita, só esperava Jorge voltar.

Tive a sensação de ter se passado muito tempo, tempo o suficiente pra ver o inverno chegar a Cuba. Eu, as sacadas de panos e o inverno.
A maioria vestia casacos, cachecóis, bonés, boinas. Porém sempre tinha quem insistisse em sair de regata.Gostei da sensação do sol que me aqueceu por alguns segundos e depois se escondeu.

O tempo passava intenso e incessante e eu olhava a pequena travessa esperando um sinal, aflita porque Jorge não chegava. Mas mais  ainda  com a volta ao Brasil. Não importava que eu não estivesse pronta pra recomeçar, eu teria que fazer isso de qualquer jeito. O tempo eterno havia terminado.

domingo, 28 de junho de 2009

O cara que não sabia que não podia morrer.

Quase morrer não muda nada, morrer muda tudo, já dizia o Dr.House (o melhor filósofo do séc. XXI). E quem sabe bem disso é o Michael Jackson, ah! ou não, né? Ele morreu. É isso que muda, ele não sabe mais de nada. Tudo que mudou depois dele ou por causa da morte dele, tanto faz pro rapaz.

É bem o que eu queria pra mim. Você se torna o maior astro pop do planeta, faz músicas que serão eternizadas e, durante uma década, todo o mundo se esquece de você. Você se afoga em dívidas, em drogas, no isolamento e, no desespero de tentar reconquistar uma carreira, ignora um suposto câncer de pele e é forçado a marcar 40 shows. Ganha uma semana de notinhas nos jornais e pronto. Pronto até que você...tchan tchan tchan TCHANNN..............MORRE!

É fã no mundo todo com velinha na rua, passeata, só Michael tocando em tudo que é lugar. No Harley, tem gente dançando que nem esquizofrênico, se auto-abraçando, alguém avisa que Dancing with myself é do Billy Idol!

Tinha uma mina batendo a cabeça num portão de ferro e o repórter narra: veja o sofrimento dos fãs. Se ela parar de bater a cabeça esse sofrimento diminui um pouco.
Presentes na casa que nasceu, presentes em Neverland, todo mundo fazendo especial e dando depoimento.

A Globo achou até a Sandra de Sá nos EUA pra dar depoimento sobre a morte do Michael na hora do ocorrido. Como será que foi isso? O editor falou acha algum brasileiro famoso na gringa pra falar e foi a Sandra de Sá o melhor que conseguiram???
Gente...sério, daí chama Loverfoxxx, que é mais pop, o Arthur Casas...é ele tava em NYC no lançamento do catálogo dele lá...qualquer um, mas não outro defunto né? Quem no Brasil lembrava que a Sandra de Sá tava viva??? Era uma paródia com Thriller? Nada contra ela, mas vamos combinar, né??
A imprensa foi a melhor parte. Aqui no Brasil, a gente descobriu que editor de que site era fã e quem não era. Teve site que matou primeiro, teve editor que três horas depois do ocorrido, não conseguia admitir que Michael tivesse partido (ah! nos EUA, ficou claro que o manda-chuva da CNN era fã).
Eu to escrachando, mas eu realmente fiquei comovida com tanta expressão de amor no mundo todo pelo Michael (mesmo ele tendo um passado meio mal contado sobre crianças e anyway). Agora, onde tava esse povo todo nos últimos anos?
Talvez ele tivesse tido ânimo de retomar a carreira antes, a vida antes, talvez ele não tivesse no ponto de ter uma parada cardíaca se soubesse o quanto ele era importante pra tanta gente.
To vendo tudo isso na tv, ele é assunto toda hora, não tem mais disco dele pra vender, tem amigo meu que eu nunca nem tinha ouvido proferir o nome do Michael Jackson que agora só fala de como o cara era foda. É bem isso...era! Ele era FODA mesmo. Mas no fim, todo mundo esqueceu de dizer isso pro cara. E toda essa demonstração de adoração, amor e apoio são tipo pro vento, né?? Já era!
Como diriam os sábios do morro: Perrrrdeu, Preiboi!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Qnd os fatos não contam

Tem dias que eu dormi mal, levantei atrasada, ainda com sono e a cara amassada.
Minha franja ta mal cortada, meu carro ta sem gasolina e não são nem 11 da manhã.
Ainda assim, saio de casa com uma impressão de que alguma coisa boa vai acontecer.

Assisti, na noite aterior, a um filme que tinha uma citação de sei la quem que dizia:
“Não posso fazer com que meus dias tenham mais horas, então, me esforço para fazê-los melhores”.

No trabalho, aquela velha e desgastante função que eu já adorei, mas sinceramente não aguento mais.
Não peço demissão porque ainda não arrumei outra coisa. E em tempos de crise econômica mundial...vai saber quando.
Meu convênio não serve no laboratório, o exame não pde ser feito pq blá blá blá.
Minha mãe fica histérica comigo no telefone.
To brigada com o meu melhor amigo desde a semana passada por causa de ciúmes de orkut (isso é muito o cúmulo).

A oficina só pode receber meu carro semana que vem.
Não deu tempo de mudar o número do celular.
Meu pai quer comer meu fígado por causa do carro.
Esse carro vai ferrar minha conta...q bosta...

Uma vontade de chorar danada na hora que entro no carro.
Mas segura, segura essa pena de si mesma.
Segura essa princesisse arraigada, ranso do interior.
Toma vergonha na cara, estufa o peito e mete o pé na porta (mas não na do carro, por favor).

E lá vem...aquela sensação de que tudo vai melhorar!
hahahahahahahahahaha...ridículo!
Eu só posso estar enlouquecendo mesmo!
Que raio de otimismo sincero do fundo do coração é esse que anda me perseguindo???
Não tem um sinalzinho de algo vai melhorar.
E vai saber Deus porque eu tenho certeza que vai.

Acho que na hora certa o telefone vai tocar e eu vou mudar de emprego.
Vou ganhar mais e o carro não vai ferrar a minha conta.
Meu amigo vai esquecer a briga. Quem sabe até a gente comece a namorar. Afinal, meus namorados sempre foram meus melhores amigos mesmo.
Minha mãe...bom...ela nunca vai deixar de ser histérica rssss, mas tb perderia a graça.
Meu pai...meu pai...ta...to much achar que ele vai ter orgulho, mas pelo menos eu ainda vou ter meu fígado quando arrumar o carro.
Minha franja, essa é pra eu me lembrar pq o barato sai caro. Valeu de lição.
O celular eu troco fácil. É só eu vencer meu pânico de shopping center.

Mas que tem dias q eu ainda queria a minha mãe...ah tem...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Por que meu chefe é assim...???

E as conversas com o meu chefe no msn vira e mexe são assim:
(só troquei os nomes, o resta ta fielmente reproduzido)

meu chefe diz: percebe-se q vc não esta preparada pro porvir....

Eu diz: oq é porvir

meu chefe diz: o q virá...

Eu diz: ah h haha

Eu diz: é q vc escreve q nem pobre

Eu diz: do novo presidente?

Eu diz: nem eu, nem ninguém, mas a gente se adapta

Eu diz: cara já até ganhou apelido de feng shui

meu chefe diz: estou falando do porvir galático

Eu diz: oq????

Eu diz: galático???

meu chefe diz: energia primordial docentro da galaxia q chega até nós simples mortais através do sol

Eu diz: hahahahahahahahahha

Eu diz: NÃO SEI O VC TA TOMANDO MAS EU QUERO UMMMMMMMMMM

meu chefe diz: vc ta testando a minha aciencia... infiel

Eu diz: Vc ta doidão

Eu diz: não to entendendo nada

Eu diz: vc ta falando daqui ou do mundo no geral?

meu chefe diz: estou preparando a minha mente para o porvir em 2012

Eu diz: ah ta

Ta provado que chefe é tudo louco. E eu to achando que to preparada pra ter chefe porque no fim das contas o que ele falou fez muito sentido pra mim.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Primeiro encontro e beijo sóbrio ninguém merece...

Vira e mexe alguém me volta com essa questão.
Eu ainda to pra entender o que me faria um ser apto a dar opinião sobre isso.

Dessa vez minha amiga que namorou o mesmo cara praticamente uma vida e é tipo uma recém solteira – um ano sem contar a fase de luto – ta com um problema. Na verdade, o mesmo problema desde que ela começou a sair com caras depois do fim do namoro.

Ela sai pra jantar uma, duas, três vezes e beijo mágico não acontece, nem o mágico, nem o não mágico.

Já falei: um é compreensível, dois é no limite, três...eu dispensava.

Aí ela me disse outro dia... “mas sabe o que é...vc se lembra da última vez que você deu o primeiro beijo sóbria em alguém??”

HA!
She get a point!!!

Eu não me lembro mesmo. Eu nem sei se isso é possível. Deve ser, mas é difícil ficar sóbria quando se sai de casa, não?
E pra maioria das pessoas pra quem eu fiz tipo uma enquetinha sobre o assunto, tb não se lembra.

Falei pra ela, meu, para de sair pra jantar que senão você nunca vai ficar bêbada o suficiente.
Ela falou...ah, mas isso não ta errado?
Errado? Errado é você enrolar um coitado que ta pagando seu jantar há uma semana com o qual você quer ficar e não consegue beijar porque ta sóbria sendo que você é uma notória cachaceira!!!
Errado é você fingir de sóbria. É por isso que o beijo não sai...ninguém fica a vontade não sendo você mesma.

Meu conselho foi o seguinte, ah, então vai e enche a lata de saquê! (pq acho que ele ainda não sabe que ela é mega cervejeira).

Eu também namorei uma vida ae. Quando terminei, a princípio, só fiquei com pessoas que eu já conhecia há muito tempo, mesmo assim...não tava completamente sóbria.

Bom, um dia fui numa festinha e daí fiquei com um cara...bem bacana ele parecia e tals.
Me ligou uns dois dias depois pra gente sair...
Vamos jantar???
Jantar? Nem conheço a pessoa direito e já vou jantar com ela??? Essa coisa de jantar assim pra se conhecer eu não entendo. Jantar é onde tudo pode dar errado. TUUUUDOOOOO.
Escolher comida em todos os meus namoros era quase um questão de guerra nuclear.
Como você vai conhecer alguém com dois pratos de comida no meio de vocês? Que grotesco...
Enfim, jantar pra conhecer alguém é a coisa mais desconfortável do mundo pra mim.

Logo, mesmo correndo o risco e parecer meio mano/hippie, falei pra ele...ah, não vou ta com fome sexta, sexta é dia de tomar cerveja, vamos?
Ele fecho e beleza.

Daí eu pensei numa coisinha...ai meu, vai que ele é feio!!! Nuuussaa senhora, nem tinha pensado nisso antes...Sabe como é né...balada=lugar escuro e discernimento afetado.
E os problemas pareciam infinitos...
Vai que a gente não tem assunto...hummmm...fica aquela conversa de elevador ou pior aquela coisa conversa de currículo...quantos anos vc tem? Trabalha com o quê? Formou onde? Affff....
Eu sei que ele parecia legal na balada, mas com vodka até uma garrafa térmica pode ser legal.

Já tava pronta pra desistir já, quase ligando pra desmarcar...
Mas o quê eu ia dizer
Oi, eu sou jacu mesmo e não posso sair com vc?

Insisti de tudo que era jeito pra gente se encontrar no local, mas não deu, ele insistiu mais ainda em me buscar.
Ah, pronto, tudo que eu precisava. Agora, se ele for chatão e eu quiser me mandar não vou poder...

Respira, pensa que você vai toma duas cervejas e volta. Pronto, indolor!

Hora desgracenta de escolher a roupa.
Que tipo de pessoa que quero que ele pense que eu sou?
Ah, eu mesma? Nops!!!!
Ninguém precisa descobrir que sou maluca assim já de cara, né? Melhor passar uma boa impressão.
Roupa descontraída com uma gargantilha de pérola. Pérolas leia-se boa menina.

Agora, pergunta se ele chegou no horário!!! NÃÃÃÕOOOOO
Não tem nada que eu mais odeie que ficar esperando.
Já tava puta quando ele apareceu.
Desci, entrei no carro, bati a porta e falei Oi! Com a cara mais irritada do mundo.
Ele começou a rir muito.
Já larguei um “ta rindo do que?”
De você, né!!
Ele falou que pode ser que a experiência dele não fosse gigantesca, mas que ele nunca tinha ido buscar um mina pra sair pela primeira vez e ela já estivesse espontaneante brava com ele como se se conhecessem há muito tempo.
E ainda completou com um, sabia que vc era meio doida desde a hora que eu te vi.

Bom...nessas meu super disfarce já tinha ido por água a baixo...junto com as minhas nóias.
Fomos mega conversando até o bar, no fim da noite, no bem da verdade eu ainda não sabia quantos anos ele tinha, onde tinha estudado ou pra que time torcia.
O que a gente sabia um sobre o outro é que o beijo era bom, os dois realmente gostavam muito de cerveja e piadas infames dominam.
Saímos muitas vezes e ficamos até que um bom tempo juntos até que eu conhecei o melhor amigo dele...bom, daí é outra história, deixa pra lá.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Desajustada

Tem dias que você acorda de manhã e coloca um vestido preto de verão, mas pra não ficar tão preto, acha um colar colorido de capim-dourado com bolinhas verde, azul, rosa e tal. Bracelete dourado queimado. Sandália de courinho. Bolsa grande de marca. Na pressa, cabelo molhado que vai indo despenteado nao caminho.
Dia atípico: carona até o ponto, vou de ônibus. Mp4 e fone de ouvido. E quando olho no espelho do ônibus vejo uma moderninha da vila madalena transitando entre o hippie e o indie, ouvindo The Killers e los Hermanos... Galera estranha essa que faz tipinho...
É supreendente no que a gente pode se transformar assim por acaso sem prestar atenção.
Não moro na Vila, não entendo os indies e tenho uma tendência a não gostar muito de hippies, mas de leve.
Por que é que um dia saí vestida e uma coisa que eu não sou?
Mas será que eu não sou esse tipo ou esse tipo é que se apropriou de um modelo pra ser?
Se vc usa listras e não ama mais Arctic Monkeys é indie, se usa miçanga e faz escultura de durepox é hippie, se tem franja e chora é emo...
Será que tem alguém que olha e consegue ver que tem gente que sai despretenciosamente de casa, sem vontade de parecer com nada que não mais que ela mesma?
Ta na moda dizer que moda é atitude, que moda é comportamento, que o que ta na moda é ser feliz...
Depois a gente pega toda essa atitude, esse comportamento, classifica e rotula pra todo mundo poder saber exatemente quem é e onde está e, enfim, ser feliz.
Outro dia passou bem de leve no meu pensamento que rótulos servem pra gente se esconder de quantas pessoas podemos ser e em quantos lugares podems estar, pois parece mais seguro ficar parado...mas daí me fugiu a idéia.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sobre duvidar de si mesmo

Faz dias que eu falei sobre a Menina do Alho.
A Menina do Alho sumiu acho que desde esse dia, e eu só reparei hoje.
Não sei se foi o frio, se ela se mudou, se o alho acabou, se trocou de esquina ou achou alguma coisa mais libertadora pra fazer...

O que eu sei é que há dias não a vejo e só hoje percebi que ela não está mais lá.
Olha só, eu nem tinha consciência de que, em oito meses, eu realmente notei a presença dela cotidianamente. Nunca passei sem olhar e apreender.

A verdade, é que agora que não encontro mais com ela, to meio injuriada.
Coisa de doido mas, na minha cabeça passou: Como ela foi embora sem me avisar????
Engraçado, é como se ela me devesse alguma satisfação.
Afinal, nunca trocamos uma palavra, mas nos víamos todos os dias. Achei que tínhamos criado um vínculo silencioso e esfumaçado. Sabe algo como o sentido de consciência coletiva.

Sou dessas pessoas apegadas a familiaridades trazidas por costumes e rituais cotidianos.
Ela fazia parte do meu ritual matinal.
Um minuto depois de sair de casa, parar na esquina, ver a menina e imaginar tudo sobre quem ela poderia ser e o que estaria fazendo alí. Especulando e tentando entender.
Mas ela foi embora mesmo...
E eu...SEI LÁ PORQUÊ... fiquei melancolicamente incomodada com isso...

Agora sim me deu uma impressão de que ela era transparente, inexistente, um fantasma.
Espero não estar enlouquecendo, porque acho que a gente nunca sabe quando está enlouquecendo, alguém geralmente tem que avisar... Ela existiu sim. Ela esteve lá muito tempo. Tempo suficiente pra eu escrever sobre o seu olhar, sua tristesa, sua raiva.
Chamou minha atenção, gastou meus pensamentos, me atormentou a consciência, usou minha imaginação e depois foi embora assim... tão sem sentido, sem motivo, a ponto de me fazer duvidar do que eu vi.