quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Não tem cabimento...mas cabe entre nós

Franciso Matarazzo, Barra Funda, 08:30 da manhã, terça-feira. Opa, bom horário, bom dia e bom lugar para começar a semana indignado.

Sabe o que é um homem sanduíche?

Para quem não sabe, são aquelas pessoas que ficam paradas na rua embrulhadas em um cartaz frente e verso que anuncia alguma coisa. Para não pagar um outdoor, um anúncio em revista ou imprimir panfletos, um cara fica de pé na rua servindo de apoio de publicidade para alguma empresa.

Pois para sacanear logo cedo o meu dia, saindo de uma ruazinha que dá acesso da Av. Francisco Matarazzo à rodoviária Barra Funda (imagina que a paisagem do lugar já não é muito animadora), topei com um senhor alto, magro, grisalho, vestido de calça e camisa social e sapato lustrado. Ele podia muito bem ser um bancário, um empresário, um vendedor, podia ser meu tio, o pai da minha amiga, podia ser meu pai..., mas alí ele não era uma pessoa. Naquele momento, ele era um retrato do absurdo.

Um senhor de 58 anos embrulhado em um cartaz publicitário que anunciava vagas de emprego em diversas áreas, mas ele não pode ocupar nenhuma delas, pois ao um respeitável senhor de 58 anos só resta o emprego de poste!!!

Não é direito, não é justo, não é digno!

Um homem que provavelmente tem esposa e filhos.

Um homem que trabalhou a vida toda, foi o mais honesto que pode, contribuiu com impostos e com o seu serviço para a sociedade, chega nessa altura do campeonato e tem ainda que entregar a sua dignidade.

Aí você pensa: “Ah, o cara chegou na empresa a procura de uma vaga, o funcionário do rh viu que ele não se encaixava no perfil, mas como o ser humano muitas vezes se compadece da situação alheia (aham...), ofereceu ao senhor, que precisava mesmo de um emprego, a vaga de cavalete!”.

Pronto! O funcionário do rh foi dormir com a consciência traquila e a empresa aproveita para fazer um marketing social de que contrata pessoas acima de 50 anos.

Fim de papo. Todo mundo feliz, né?

Aí, eu venho aqui e escrevo sobre a minha indignação e revolta no meu blog e também fico feliz, afinal, mostro que me importo, me convenço que me importo, convenço algumas pessoas que me importo. Alguém lê, pensa sobre isso e fica feliz por se importar.

É bom ser politicamente correto, preocupar-se com o próximo, sentir que não é como a maioria que nunca notaria esse retrato do absurdo, ir para casa e dormir aliviado por ser um cidadão consciente...no discurso.

Mas a gente vai fazer alguma coisa efetiva com isso e por isso? Eu vou? Você vai? O homem sanduíche vai?

Tem um cara que eu conheço que não pega determinados trabalhos se o cachê não for digno. No começo, eu achava que ele tava errado, que se ele precisava da grana e tinha tempo para fazer o trabalho (que também não era nada de se matar), ele deveria pegar.

Agora, começo a achar que ele está certo. Se todo profissional não aceitasse um salário, um emprego, um tratamento sem dignidade, talvez (um talvez bem cauteloso) esse tipo de trabalho não fosse tão comum.

Pelo amor de Deus, não to jogando a culpa no senhor sanduba (só para os íntimos). Estou só dizendo que as coisas só mudam se os profissionais se organizam conjuntamente. Sindicato, organização de classes? Nada é perfeito, mas é uma maneira.

Anyway, no fim, perdi o foco e ainda deixei esse post meio comunista!! Mas ta valendo.

Por isso e tudo mais que eu digo: uma dose em jejum pra sair de casa.

PS: Ninguém sabe que o meu Blog existe!!