Quando voltamos a Havana, 10 dias depois, parecia que já
havíamos estado lá muitas vezes. Conhecíamos as ruas, falávamos delas com a
familiaridade que carregávamos pela Vila Madalena. Tínhamos nossos lugares
habituais, nossas mesas cativas nos
bares e restaurantes, ainda que estivéssemos sentados ali pela segunda vez.
Havia até nosso garçom de confiança, o Dennis. Ele atendia
num bar improvisado, num sacada, que eles chamam balcón - soa mais romântico –
e ficava dentro de uma casa na famigerada rua Obispo, apenas a duas quadras de
onde nos hospedamos nessa segunda vez, na rua Bernaza.
Casa da senhora Velúvia.
Um apartamento muito grande para uma senhora. Pareceu muito
sozinha. Sempre disposta a conversar conosco, fazer perguntas, nos contar
histórias. Mas parecia nunca sair de casa.
Um dia me disse que uma empresa venezuelana chamada Telesar
teria saído do Brasil a mando do Maduro por conta do impeachment da Dilma.
Contou também que haviam muitos protestos no México por conta do subsídio do petróleo.
E se irritou muito com umas hospedes coreanas novinhas e
barulhentas que haviam passado uma noite ali. Confesso que também me irritei.
Um dia amanheceu frio e Havana. O inverno finalmente resolvera
impor sua presença no Caribe. Olhando da sacada da senhora Velúvia, em direção
à rua onde ficava a praça que fazia cerco ao famoso Floridita, só esperava
Jorge voltar.
Tive a sensação de ter se passado muito tempo, tempo o suficiente pra ver o inverno chegar a Cuba. Eu, as sacadas de panos e o inverno.
A maioria vestia casacos, cachecóis, bonés, boinas. Porém
sempre tinha quem insistisse em sair de regata.Gostei da sensação do sol que me
aqueceu por alguns segundos e depois se escondeu.
O tempo passava intenso e incessante e eu olhava a pequena
travessa esperando um sinal, aflita porque Jorge não chegava. Mas mais ainda
com a volta ao Brasil. Não importava que eu não estivesse pronta pra
recomeçar, eu teria que fazer isso de qualquer jeito. O tempo eterno havia terminado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário